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Me vejo sentado na ponta da asa observando a paisagem lá embaixo
Sempre gostei de voar e acho fantástico o momento em que o avião se desconecta da terra e mergulha no céu azul. É um marco da engenharia conseguir fazer voar um tubo metálico carregado de gente e mercadorias. Quando criança, achava que morreria de medo de entrar num avião. Que nada, no meu primeiro voo fiquei tão extasiado que me imaginei sentado na ponta da asa observando a linda paisagem lá de cima.


Houve época em que viajava semanalmente para Brasília e Rio. O saguão de embarque de Viracopos era um “puxadinho”, com dois ou três guichês da TAM, Varig, a falida Vasp e da emergente Gol. A Varig, apesar da situação pré-falimentar, ainda mantinha o glamour de voar. Certa vez comprei a passagem pela internet e lá tinha um cardápio espetacular para um voo de apenas 1h40. 

Escolhi, meio que aleatório, um prato de frutos do mar, só para preencher o formulário. Dias depois embarquei e tinha esquecido completamente o pedido. E não é que logo depois de decolar surge a aeromoça com o vasto e delicioso prato escolhido. Confesso que fiquei constrangido diante dos olhares dos demais passageiros. Bons tempos aqueles.


Mas nem tudo era céu de brigadeiro. Teve dois momentos que testaram meus nervos. Um deles ocorreu durante o retorno do Rio de Janeiro, lá por volta de 2002. O dinheiro estava curto e acabei comprando a passagem mais barata, da falida Vasp. Deveria ser um dos últimos aviões da empresa a voar. Ele partiu batendo asas do Galeão e rapidamente entrou numa furiosa tempestade. Pela janelinha, via relâmpagos abrindo clarões em meio a imensas nuvens negras. 

Nunca tinha visto uma tempestade tão perto, ou melhor, nunca tinha estado dentro de uma tempestade. E ainda por cima era noite. O avião parecia uma folha seca sendo soprada de um lado para o outro. Parecia que a qualquer momento ele iria se desintegrar. Aquela vez achei que realmente não chegaria em casa. O tempo só melhorou perto de Campinas e pousamos encharcados de suor.


A porta abriu no ar

Outro episódio, mais grave e até hilário, aconteceu em 1996, quando trabalhava como


assessor de imprensa da Secretaria de Saúde do Estado de Santa Catarina. Numa manhã embarcamos eu, o secretário de Saúde e mais alguns técnicos num avião de pequeno porte do governo do Estado com destino a Brasília. Logo no embarque o piloto alertou que enfrentaríamos turbulência em decorrência de uma forte tempestade que havia atingido o Estado no dia anterior. Não deu outra. 

Assim que decolamos o avião começou a sacudir de tal forma que me senti montado num destes touros de rodeio. Num dado momento ouvimos um forte estouro e o vento entrando no avião. Era a porta na parte traseira da aeronave que havia estourado. E eu estava no lado oposto da porta. Fiquei ali, grudado na cadeira, esperando para ver o que aconteceria. 


O co-piloto veio e tentou puxar a porta que havia ficado pendurada por cabos de aço, sem sucesso. O medo era que os cabos cedessem e a porta atingisse a cauda do avião, provocando, aí sim, um verdadeiro desastre. O piloto então solicitou pouso de emergência e descemos em Blumenau. Também havia o temor de durante o pouso a porta bater na pista e se voltar contra o avião, provocando algum tipo de acidente. 

Por sorte, nada aconteceu. Passado o susto, embarcamos no jato do governador para continuarmos a viagem. A perícia constatou que o metal que travava a porta estava em processo de fadiga e não aguentou a forte turbulência.


No balanço final, voar é muito bom e dizem as estatísticas, também mais seguro. Que continue assim.

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